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Psicologia e relações raciais



Publicado em: 31 de março de 2007

O racismo como construção ideológica configura-se no campo da ciência a partir da categoria “raça” que foi difundida no século XIX, mas antes disso, os europeus já classificavam e hierarquizavam a diversidade encontrada quando os mesmos tomaram contato com as civilizações em outros continentes. Relacionava-se o fenótipo com qualidades psicológicas, morais, intelectuais e culturais. A população branca foi considerada superior à negra e amarela, por suas características físicas que segundo pensavam, os tornavam mais bonitos, inteligentes, honestos e inventivos. Também mais aptos a dominar outras raças, em especial, a negra, que era considerada estúpida, mais emocional, menos honesta, menos inteligente e, portanto, mais sujeita à escravidão e a todas as formas de dominação.

Tais teorias chegaram tardiamente ao Brasil num momento anterior à abolição da escravatura, ocasião está em que estava em discussão o “futuro” da nação. Para a ciência psicológica da época, utilizada por médicos, a miscigenação prejudicava o desenvolvimento da nação, pois, de acordo com a mesma compreensão racista, a população negra apresentava baixa capacidade intelectual, tendência em desenvolver desordens mentais e de se envolver em atividades criminosas. A escravidão já não era bem vista internacionalmente e por isso, a ideologia racista justificou a omissão do estado com relação à população negra liberta e a vinda de trabalhadores europeus que fizeram parte de um projeto de branqueamento” do país.

Com a finalidade de “rebater” as teorias racistas, surgiu outra ideologia que ajudou ainda mais a emperrar as discussões em relação à problemática do racismo no Brasil, disseminando a
ideia de uma “democracia racial”, o que tentou “apagar” as tensões raciais existentes a partir da justificativa da miscigenação promover uma convivência harmoniosa entre as diferentes “raças”. Em meio a essa naturalização das desigualdades sociais, a ideologia racista adentrou os diversos âmbitos da sociedade, inclusive as instituições, que reproduzem o racismo amplificando ainda mais a problemática no Brasil.

A Psicologia brasileira, portanto, carrega em sua história contribuições negativas no que diz respeito a temática das relações raciais, pois a ciência psicológica contribuiu significativamente para a legitimação do racismo e se omitiu por muito tempo em reconhecer o racismo como uma problemática social grave que deflagra sofrimento psíquico.

Diante deste contexto, em 2002, o Sistema Conselhos de Psicologia passou a considerar a violência causada pelo racismo, ano em que foi criada a Resolução CFP 018/2002. Com isso, o Sistema Conselhos de Psicologia reconhece tais faltas e está disposto a modificar a história colocando em pauta discussões críticas a respeito dos diferentes assuntos que envolvem a temática das relações raciais e sofrimento psíquico no Brasil. Vale lembrar que os profissionais e estudantes de Psicologia também devem ser responsáveis pela apropriação de conhecimento que a academia oferece quando põem em movimento a ideologia racista e mesmo quando não se dispõem a discutir o tema no processo de formação. Perceber-se nas relações raciais e reconhecer o contexto social que estamos inseridos também é fundamental no processo de prática profissional na garantia de direitos