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Revolta dos Malês e a importância da preservação das memórias dos povos africanos e afro-brasileiros


Publicado em: 24 de janeiro de 2021

Por muito tempo ausente dos livros didáticos escolares, o acontecimento histórico que ficou conhecido como a “Revolta dos Malês” completa 186 anos em 2021. Ocorrido na Bahia entre os dias 24 e 25 de janeiro de 1835, o evento expressou a inconformidade da população negra no Brasil, escravizada, com as condições de vida e o cativeiro. A forte ascese islâmica, religião professada pelos revoltosos,  conferia ao grupo um  elevado nível organizativo. A Revolta dos Malês notabilizou-se pela luta  por direitos iguais de acesso ao trabalho e à educação e pela liberdade.

Na ocasião, o cenário de Salvador, BA, era marcado por uma crise econômica, elevado custo de vida e privilégios às camadas mais abastadas da população. Havia também indignação com a discriminação racial e religiosa: o estopim do conflito aconteceu quando as manifestações religiosas dos Malês foram proibidas. O movimento eclodiu na Festa de Nossa Senhora da Guia, data que, no calendário islâmico, coincidia com o final do Ramadã, e buscou provocar incêndios simultâneos em diferentes pontos da capital baiana, a fim de produzir distrações.

Quando o plano foi descoberto por um juiz de paz, forças policiais buscaram impedir o conflito. Após a denúncia, muitos escravizados rebelaram-se imediatamente. Depois de quatro horas de batalha,   a revolta foi sufocada através de uma forte repressão. A violência policial foi tão grande, tão intensa, que entre os mortos, havia pessoas que foram afogadas durante a fuga. Entre as punições, houve deportações, execuções e prisões. Leis foram promulgadas com o propósito de inibir novas revoltas, a exemplo da Lei n° 4, de 10 de junho de 1835, atos públicos que marcam a vida de pessoas negras até os dias atuais.

Conhecer cada vez mais sobre a história e a cultura da África e dos povos afro-brasileiros e as opressões e repressões sofridas por eles são reflexões fundamentais para que as/os psicólogas/os consolidem uma atuação antirracista e a favor dos direitos humanos. Nesse sentido, relembrar a história de resistência e luta por liberdade que a Revolta dos Malês expressa é uma parte desse trajeto. Afinal, ainda hoje, em um país no qual as desigualdades raciais e o racismo fazem-se presentes, várias lutas pela garantia de direitos e por dignidade ainda são travadas  pela população negra e influenciam a saúde mental dessas pessoas, as quais devem ter à disposição uma psicologia efetivamente antirracista.

#PraTodosVerem: nesta publicação há um card que tem, ao fundo, a ilustração do Pelourinho e, sobrepondo, dois braços de uma pessoa negra quebrando correntes.