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A saúde mental das/os trabalhadoras/es da Polícia Militar de São Paulo


Publicado em: 26 de janeiro de 2021

"O pai e a esposa de Rodrigo* estavam tomando café na sala quando ouviram um barulho estranho vindo do banheiro. Tentaram entrar no cômodo, mas estava trancado. Arrombaram a porta e encontraram o soldado da Polícia Militar de São Paulo desacordado. Ele só retomou a consciência horas depois, na maca de uma Unidade de Pronto Atendimento de Barretos, no interior de São Paulo. Em pleno sábado de agosto de 2020, foi a terceira vez que Rodrigo tentou se matar desde que passou a fazer parte do braço armado do estado paulista"*

Este é o parágrafo inicial de uma matéria publicada na imprensa, no último 18 de janeiro. A reportagem discorre sobre a triste realidade das/os policiais da Polícia Militar de São Paulo, classe de trabalhadoras/es que está sob crescentes indíces de adoecimento mental e suicídio e convivem com a violência física, mental e simbólica da própria instituição que atuam.

A matéria ainda apresenta um áudio gravado durante uma consulta de Rodrigo com um médico da PM, em que a condição mental do soldado é ironizada e diminuída - o mesmo chega a ser chamado de "imaturo". Esse áudio é extremamente importante. Revela o que estudiosas/os e entidades têm alertado há tempos: as consequências psicológicas causadas pela violência policial, tanto para a sociedade civil quanto para as/os próprias/os militares, que se vêem enquanto agentes repressores do Estado contra a população, principalmente negra e periférica, que muitas vezes são suas/seus semelhantes - vizinhas/os, familiares, amigas/os, que morrem diariamente em decorrência da ineficiente guerra às drogas e do racismo, etarismo, capacitismo, machismo, classismo etc das instituições de poder e de segurança .

O Conselho Regional de Psicologia de São Paulo reitera sua preocupação com as decorrências da lógica de guerra que permeia a Polícia Militar do Estado de São Paulo. Afirmamos que essa questão deve ser lida de maneira não patologizante, não medicalizante e não culpabilizadora das/os trabalhadoras/es da instituição, mas sim da compreensão crítica histórica-social de como se formaram as instituições policiais no Brasil, herdadas da época da Ditadura Militar. 

É direito destas/es trabalhadoras/es o acesso às políticas de saúde mental, agora e historicamente ameaçadas por ideais e medidas retrógradas de perspectiva manicomial, com o desmonte de políticas públicas - como a alteração e destituição de diversos serviços e programas da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), pautada em reunião do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS).

Nos colocamos em defesa da saúde mental das/os trabalhadoras/es da Polícia Militar e por uma formação humanizadora, que entenda o papel da polícia como de proteção da/o cidadã/ão e não de repressão e opressão de grupos minoritários.

Para referenciar a atuação de psicólogas/os neste contexto, o CRP SP produziu a cartilha "Olhares: a violência policial no cotidiano das/dos psicólogas/os nas Políticas Públicas", que pode ser acessado clicando aqui. Também indicamos a leitura da publicação do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP), “Referências Técnicas para atuação de psicólogas/os na Política de Segurança Pública”, disponível aqui, e da produção da Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo, em parceria com o Conselho Federal de Psicologia e Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, “Uma análise crítica sobre suicídio policial”, disponível aqui. Por fim, sugerimos também os debates on-line abaixo que, embora não tratem exclusivamente sobre o tema, apresentam importantes reflexões que são atravessadas pela questão da violência policial:

*Trecho da matéria do veículo The Intercept Brasil

#PraTodosVerem: nesta publicação há um card de fundo preto e a ilustração de um vidro quebrado e seus cacos se sobressaindo.