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Das lágrimas às mobilizações: violência policial e discriminação racial no Brasil


Publicado em: 21 de março de 2021

Hoje, 21 de março, é o Dia Internacional de Luta Contra a Discriminação Racial. Essa data é marcada pelo Massacre de Shaperville, ocorrido em 1960 durante protestos contra a “lei do passe”, vigente em Johanesburgo, na África do Sul. Revoltadas com a imposição de identificações que definiam os locais onde negros poderiam circular, 20 mil pessoas foram às ruas, sendo atacadas por tropas militares do Apartheid. Nesta ocasião, houveram 69 mortes e centenas de feridos.

Passadas mais de seis décadas, a discriminação, o racismo, o assassinato e outras formas de violência permanecem como problemas universais e estruturantes. O Brasil, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é o nono país mais violento do mundo, com 31,1 óbitos por causas violentas a cada 100 mil pessoas. A taxa de mortes por violência no país corresponde a 30 vezes os índices de letalidade por violência na Europa, de acordo com o Atlas da Violência de 2018

Números tão assustadores têm causas institucionais: segundo o Relatório da Anistia Internacional, a polícia brasileira é a que mais mata no mundo. No Estado de São Paulo, cuja polícia é uma das mais violentas do país, segundo a Anistia Internacional, as principais denúncias feitas à Ouvidoria da Polícia em relação às polícias civil e militar nos primeiros cinco meses de 2018 foram, respectivamente, má qualidade no atendimento; abuso de autoridade, e homicídio.

Nesse cenário bélico, morrer por ser negra/o é uma realidade. A cada 100 brasileiras/os assassinadas/os, 75 são pessoas negras, de acordo com os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública em 2019. Entre as mulheres, 68% das assassinadas são negras, segundo o Atlas da Violência 2020. Essa perspectiva também adquire contornos estruturais e institucionais: no Rio de Janeiro, 80% das pessoas assassinadas pela polícia entre janeiro e julho de 2019 eram negras. 

A situação é admitida, inclusive, de forma institucional, a exemplo da Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo: “A letalidade policial ainda recai, majoritariamente, sobre pobres e negros. Nesta perspectiva, a violência policial letal é estrutural e cultural”. Nem crianças escapam deste cenário, como foi o caso de Agatha Vitória Sales, João Pedro Matos, Guilherme Silva Guedes, entre tantas/os outras/os que perderam suas vidas em atos violentos intencionais e institucionais. Trata-se, entre outros ítens, de um reflexo de uma sociedade baseada em ideais etnocêntricos de branquitude e movida pelo mito da democracia racial.

Os números contribuem para uma compreensão mais ampla da gravidade da situação, mas o olhar para as subjetividades ligadas à discriminação racial no Brasil é o que fará diferença no combate à discriminação racial no país. Nesse sentido, é fundamental dar atenção às consequências dessa violência estrutural e apoiar cada reação a esse fenômeno. Um dos exemplos a ser destacado nessa luta é o conjunto de movimentos de mães em luto (e luta), as quais perderam seus filhos (em sua maioria, negros e periféricos) para a violência policial e ficaram com marcas psicológicas duradouras. Elas vivem a perda de forma patológica, por vezes autodenominam-se como “mortas vivas”. Porém, apesar do sofrimento que as consome, perseveram por justiça e para que outras mães e familiares não sejam atingidas por uma situação semelhante. Que nesse Dia Internacional de Combate à Discriminação Racial, as mães em luto – que transformam, todos os dias, o substantivo em verbo – sejam uma inspiração para que cada psicóloga e psicólogo seja antirracista diariamente em suas práticas profissionais e condutas pessoais, e empenhe-se em diferentes frentes de luta pela garantia dos Direitos Humanos.

Neste sentido, contribuindo para uma Psicologia Antirracista, reforçamos a existência do documento do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP), “Relações raciais: referências técnicas para a prática da/o psicóloga/o”, produção técnica, ética e política feita para psicólogas/os de diversas matrizes de cor da pele, pertencentes aos diferentes grupos raciais - sejam eles pretos, pardos, brancos, amarelos ou indígenas -, partindo do princípio de que compreender as relações raciais no Brasil é uma tarefa que implica todas e todos nós.

A Psicologia é para todo mundo e se faz na luta contra a discriminação!

#PraTodosVerem: nesta publicação há um card em tons de laranja e azul e, ao fundo, listras e pontos nestas mesmas cores. Na parte superior direita, a ilustração de um calendário com o símbolo da Psicologia. No centro, dentro de um círculo, a imagem que remete a repressão policial e uma mulher negra resistindo, com um braço levantado e outro segurando um megafone.