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01 de agosto - Dia Mundial da Amamentação


Publicado em: 1 de agosto de 2020

Há dois séculos procurando reverter os altos índices de mortalidade entre recém-nascidos/crianças pequenas, governantes vem trabalhando em políticas de promoção ao aleitamento materno exclusivo; prática em evidente decréscimo, principalmente em países em desenvolvimento.

Visando a promoção, o apoio e a manutenção do aleitamento materno exclusivo, estratégias estudadas, divulgadas e adotadas, por especialistas, vem acontecendo, mundialmente, em Serviços de Saúde de diferentes níveis.

Sabe-se que muito já se caminhou nessa batalha e, conquistas significativas se deram. Contudo, o aumento dos índices de aleitamento materno exclusivo não aponta para o ritmo de crescimento desejado por governantes e profissionais de saúde, mantendo-se aquém do patamar de excelência.

Tal fato convida à reflexão dos fatores abordados nessas políticas: será que a forma de olhar/entender/abordar tal prática estaria inadequada; consideram-se, equitativamente, os principais atores envolvidos nesse processo; quem seriam eles e como estariam envolvidos nesse processo?

O termo “Amamentação” é definido pelo ato de “dar de mamar”, “nutrir”, “dar vida ou alento a…”, mostrando-nos a necessidade de pelo menos dois indivíduos interagindo para que tal prática se dê.

Vê-se, então, que ao menos os aspectos psicológicos, biológicos e socioculturais, da pessoa que amamenta e da criança deveriam estar englobados nas políticas pró-amamentação e, mais especificamente no Brasil.

A atuação junto àquelas pessoas no ciclo gravídico-puerperal e aos seus bebês, vem mostrando que os esforços de acréscimo nos índices de aleitamento materno exclusivo tem se voltado para garantir a satisfação das necessidades da criança, desconsiderando, na maioria das vezes, a subjetividade de quem amamenta, núcleo do processo de amamentação.

A amamentação é uma prática significativamente influenciada pelas experiências de vida materna, ou seja: ter sido amamentada, conviver com pessoas que amamentaram seus filhos tendo ou não sucesso, desejar amamentar tendo condições sócio/econômico/cultural para tal, dentre outros aspectos que se constituem em possibilidades para que estabeleça o aleitamento materno como uma das formas de cuidado a seu bebê. Segundo Rezende, especialista no assunto, as ações humanas não se apresentam como imitações mecânicas dos comportamentos de outros seres, mas como algo mais complexo, que implica na forma e no significado que o indivíduo atribui às coisas/atos presentes em seu meio.

Assim, apoiar o processo de amamentação é não apenas oferecer conhecimentos biológicos e técnicos, mas levar em consideração a interface entre os aspectos biopsicossocioculturais envolvidos nesse ato. É poder ouvir e pensar, em conjunto, suas possibilidades e sentimentos em relação aos novos papéis assumidos em sua vida, o que inclui, mas não se resume à amamentação: é, ser capaz de perceber e, assisti-la de maneira holística.

Não seriam exemplos claros de exclusão os slogans, apelativos ao amor e dever materno, das Campanhas Mundiais de Incentivo ao Aleitamento Materno? Há abordagens que reconhecem os esforços e conquistas dessa estratégia, mas também convidam todas/os a pensá-la como multiplicadora de mensagens ideológicas e unilaterais posicionando, de forma vertical e sublinearmente violentas, a pessoa — geralmente a mulher/mãe — como única responsável pela amamentação e ou as conseqüências da ausência desta para seus filhos. 

Verifica-se, assim, discursos/mensagens taxativas e reveladores da preocupação e movimento de uma sociedade que busca beneficiar os recém-nascidos em detrimento das necessidades, desejos e possibilidades maternas.

Não esclarecer quanto às dificuldades e ou possíveis intercorrências vivenciadas na amamentação podem levar à ilusão, de que esta seja uma prática “natural” aprendida por meio de observação, treinamento e experiência. Sabemos que tal crença pode acarretar sentimentos de culpa e frustração nessas mulheres que, por diferentes fatores, não obtiveram sucesso nessa trajetória. 

Percebe-se que, na contramão dos objetivos propostos pelos programas pró-amamentação, implantados pelos governos, a maioria dos serviços de saúde não possui profissionais preparados para colocar em prática uma assistência humanizada e adequada ao processo de aleitamento materno; fato que pode ser pensado como uma das causas do insucesso, na conquista por elevados índices de aleitamento materno exclusivo.

Concluí-se, então, que fornecer informações biológicas e técnicas atreladas a discursos abusivos, que não consideram as dificuldades/intercorrências da amamentação e falta de suporte, retaguarda humana e estrutural nos serviços de saúde não possibilita à pessoa que amamenta pensar, desejar e escolher o aleitamento materno com uma forma de interação, comunicação, vinculação e nutrição de seu filho.


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