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Façamos uma nova abolição efetiva nas condições de vida da população negra


Publicado em: 11 de maio de 2018
Créditos: CRP SP
Fotos: CRP SP

A “Abolição” da Escravatura completa 130 anos no Brasil. Mas o que significa 130 anos de uma suposta liberdade, perto de mais de 300 anos de desumanização de homens e mulheres negras? Quais as condições que os escravizados gozaram em sua insalubre vida? E quais condições têm hoje para viver, após 130 anos?   Ao contrário do que se propaga, o racismo à brasileira não age de maneira silenciosa. Contudo, sua denúncia é silenciada em nome de uma falsa democracia racial. Cada estrutura do Brasil é formada pelo derramamento do sangue negro e indígena. Para eliminar o racismo é necessário reconhecer seu ataque no cotidiano de cada brasileira e brasileiro.   A violência racista está presente nas tentativas de inferiorizar e desqualificar pessoas negras por meio das mais diversas faces. Entre elas: a intolerância religiosa, a violência policial e a exclusão acadêmica, que vai desde a desigualdade de acesso ao ensino até o epistemicídio do saber de origem africana. Essas violências geram repercussões sociais e psíquicas que exigem de nossa categoria profissional constantes reflexões sobre as relações raciais que são baseadas em preconceitos que buscam perpetuar, em pleno século XXI, a lógica senhor e escravizado deslocada para pessoas brancas e pessoas negras.   Estas violências são expressões da opressão social à população negra, própria de uma sociedade hierarquizada e desigual, onde grupos sociais que adquiriram um espaço de privilégios e poder que foram construídos historicamente a partir da exploração econômica, política e cultural de outros grupos sociais como os negros e os indígenas.   Precisamos superar as tensões existentes entre diferentes grupos étnico-raciais para construirmos uma sociedade democrática e igualitária. Para que isso aconteça é importante tomar conhecimento da complexidade do racismo nas relações de sociabilidade entre as pessoas. Nós, psicólogas e psicólogos, devemos nos envolver em um processo de construção de estratégias que visem o enfrentamento ao racismo, reconhecendo que essa violência opera na sociedade brasileira a partir das aparências físicas e age no cotidiano das relações de poder, na formação de mecanismos de reconhecimento e prestígio social, no acesso às oportunidades de empregos e promoções, e de direitos sociais, como também está nas estruturas sociais através do racismo institucional das empresas, das escolas e dos meios de comunicação.   É necessário ultrapassar a dimensão legalista das relações raciais e promover uma conscientização e uma conduta antirracista capaz de reparar os aspectos: socioeconômico, cultural e psíquico, haja vista que a história do corpo negro é da subjugação de suas particularidades, tido como uma cultura subalterna, inferiorizado a ponto de sofrer sem entender a razão desta dor. Quando falamos da população negra, temos que levar em conta que nossa sociedade está formada em cima do viés do racismo, que este não foi abolido, e encontra-se nas estruturas da sociedade. Negam, escondem e camuflam sua existência nas relações, através deste sistema hediondo, desconsiderando a dor e o direito da população negra. Nosso país vive mascarado pela “harmonia multirracial”, a qual, de forma leviana vende-se a imagem de uma sociedade igualitária. Uma máscara que só favorece uma parcela da sociedade brasileira.   Longe de esgotar todas as nuances que envolvem o complexo tema de violências estruturais, a expectativa é que possamos ter contribuído para a reflexão sobre formas e possibilidades de expandir nosso conhecimento proporcionando conscientização que possibilite pequenas fissuras na “estrutura”, no sistema, a fim de reconstruirmos, a cada fissura, uma nova e real abolição!   Para uma reflexão aprofundada, confira a Resolução CFP Nº 018/2002 que estabelece normas de atuação para psicólogas(os) em relação a preconceito e discriminação racial: http://goo.gl/xvoG8h   Aproveite também para assistir ao documentário “História da Psicologia e as Relações Étnico-Raciais”, que pode ser acessado pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=SkwoB7dIc8Q