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Mais de 80 disparos de militares contra um carro em que havia uma família negra. Não há argumento para sustentar mais esse ataque à população negra


Publicado em: 9 de abril de 2019
Créditos: CRP SP
Fotos: CRP SP

O Conselho Regional de Psicologia de São Paulo vem manifestar seu repúdio diante da notícia do fuzilamento de um carro em Guadalupe, na zona norte do Rio de Janeiro/RJ, que levou à morte Evaldo Rosa dos Santos, homem negro de 51 anos.   Têm sido frequentes assassinatos cometidos pelo próprio Estado, se configurando um projeto de verdadeiro genocídio da população negra, perceptível tanto na violência policial quanto nas recentes alterações legislativas, que cada vez mais retiram e violam direitos humanos, atingindo majoritariamente as pessoas pobres, negras e periféricas.   Em um Estado Democrático de Direito, é inadmissível que o Estado promova execuções sumárias. A violência letal da polícia e do exército contra civis não é e não foi uma exceção, e sim um modus operandi, a partir do racismo que estrutura nossa sociedade.   Pelo fato de este crime ter sido praticado pelas forças armadas brasileiras, o CRP SP apoia o CRP RJ na reivindicação pelo fim da intervenção militar no Rio de Janeiro e a necessidade de que militares respondam por crimes na Justiça comum. A questão principal é que o exército considera o confronto como a única reação possível e o soldado é treinado nesta dinâmica, que o desumaniza e reduz o poder de decisão. isto torna impossível que  tais corporações sejam próximas da sociedade e dêem qualquer tipo de proteção. Consideramos fundamental um debate que possibilite uma mudança de paradigma, de modo que a segurança pública não seja equivalente à repressão e assassinato das pessoas mais vulneráveis, e sim como garantidora de bem-estar de toda a população, em conjunto com a adequada oferta de políticas públicas que garantam os direitos sociais básicos a todas, de forma a reparar a injustiça e violência histórica contra a população negra desde o processo de sequestro e escravização.   Diante disso, o CRP-SP conclama por um posicionamento ético, crítico e comprometido por parte da categoria e defende:   - A revogação da a lei 13.491/2017, que transfere para as Forças Armadas os casos de crimes dolosos contra a vida de civis durante operações de garantia da lei e da ordem e; - A retirada Forças Armadas das ruas.   Nós, como psicólogas e psicólogos, precisamos apostar numa realidade de fato mais justa, livre e igualitária. Somente com uma Psicologia crítica e comprometida, com posicionamentos antirracistas e inclusivos, poderemos superar os mecanismos de violência estatal que nos afetam enquanto coletividade.   Esperamos que os coletivos, movimentos sociais e entidades da sociedade civil comprometidos com os Direitos Humanos se fortaleçam e cresçam; que nossa categoria, em sua prática profissional nas diversas áreas das políticas públicas, busque compreender as questões advindas do sofrimento causado pela violência estrutural, pela humilhação social, preconceito racial e situações de extermínio da população negra e possa, no diálogo com os usuários de nossos serviços, contribuir para construção de alternativas que apontem a superação desta realidade.