Notícias


20 de novembro - Dia Nacional da Consciência Negra


Publicado em: 20 de novembro de 2021

Racismo. Sete letras que representam sofrimentos psíquicos persistentes em todas as dimensões da vida cotidiana. Na infância, o fenômeno pode acontecer por meio de apelidos, piadas ditas em voz alta, risos incontidos e do silenciamento dos preconceitos e discriminações por parte dos atores escolares. Já no mercado de trabalho, por meio das dificuldades de acesso a vagas, associação da cor da pele a determinados trabalhos que caberiam aos indivíduos negros e outras formas de assédio. Nos estádios esportivos, acontece por meio da comparação do fenótipo da pessoa com animais, a exemplo de macacos. Nos supermercados, no olhar atento de seguranças para cada movimento das pessoas negras, de códigos inventados somente para alertar a entrada de negros no estabelecimento, do questionamento quando a ida ao local é apenas para uma pesquisa de preços e até em cenas vexatórias de acusação – implícita ou explícita – de furto e roubo. 

A lista, na verdade, é interminável, e as dores, incontáveis. Em resumo, apesar de o racismo ser tipificado como crime, ele se manifesta nos olhares, gestos, palavras e outros detalhes. Há também a negação da existência do racismo, conceituada como mito da democracia racial. Mesmo com o cenário descrito, existem pessoas que negam o racismo, classificando-o como uma invenção da mente de outros ou de forma ainda mais desrespeitosa como “mimimi”, ou seja, um assunto que julgam desnecessário discutir, por acreditarem que não existe.

Naquele contexto, a Psicologia não pode se eximir de ser antirracista. Mas como construir esta Psicologia tão necessária para os dias atuais? O Conselho Regional de Psicologia de São Paulo e o Conselho Federal de Psicologia têm trilhado caminhos com essa finalidade. 

O principal destaque vai para a Resolução CFP n.º 018/2002, que estabelece normas de atuação para as/os psicólogas/os em relação ao preconceito e à discriminação racial, tais como não exercer ações que favoreçam discriminação ou preconceito de raça, não ser conivente nem omissa/o quanto ao crime de racismo, não reforçar estigmas e estereótipos em relação ao tema nem contribuir com culturas institucionais discriminatórias. Para que a lei não fique apenas em aspectos teóricos, ambos os conselhos atuam com seminários, debates e campanhas sobre o assunto. 

Entre as iniciativas mais recentes, há o 2º Prêmio Jonathas Salathiel cujo objetivo é estimular a produção de artigos na área da Psicologia bem como criações artísticas com linguagens variadas sobre a violência causada pelo racismo, também dar visibilidade à produção científica e artística em Saúde Mental e relações raciais. Homenageado no título da premiação, Salathiel foi psicólogo, colaborador e conselheiro do CRP SP dedicado à luta contra a discriminação racial e aos estudos sobre os efeitos do racismo na saúde mental da população negra. O seminário estadual “Segurança Pública e violência policial: quais corpos são alvos?” foi outra oportunidade de debater-se a relevância da Psicologia antirracista. Dentro da Comissão de Direitos Humanos e Políticas Públicas, há também o Grupo de Trabalho Consciência Negra, que aborda a temática. 

Em âmbito federal, é importante lembrar o Prêmio Profissional Virgínia Bicudo, que contempla o tema “práticas para uma Psicologia antirracista”. Nele, há outra homenageada: Virgínia Leone Bicudo, psicóloga negra precursora de estudos raciais na área da Psicanálise. Outra campanha, esta denominada “Racismo é coisa da minha cabeça ou da sua?'', que até dezembro de 2022, vai abordar o assunto por meio de podcasts, vídeos, cards e séries temáticas.

Vale destacar também que um dos intuitos é a atuação na prevenção dos casos de racismo, deste modo, a atuação das/os psicólogas/os junto às/aos educadores também é valiosa. Uma vez que há a efetivação incompleta da alteração da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) n.º 9.394/96 por meio da lei n.º 10.639/03, que traz a obrigatoriedade do ensino da história e cultura africana e afro-brasileira no ensino básico, é importante que a Psicologia também aporte discussões de natureza antirracista, bem como prepare docentes para enfrentarem estereótipos e discriminações e conscientizarem acerca dos impactos psicológicos do racismo, em especial, nas crianças e adolescentes. 

O CRP SP defende ainda que um dos desafios a serem vencidos para concretizar-se o antirracismo na Psicologia é a formação acadêmica. Desse modo, é fundamental que a temática étnico-racial esteja presente nas grades curriculares, nos cursos de extensão e nos estágios. Para os profissionais já diplomados, a formação continuada e a tríade ação-reflexão-ação podem orientar os próximos passos. 

#PraTodosVerem: Nesta publicação, há um card em tons de marrom e amarelo. Na parte superior, uma ilustração de um calendário com o símbolo da Psicologia. No centro, dentro de um círculo há uma ilustração de pessoas negras.


Termos relevantes
direitos humanos