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Projeções da Luta Antimanicomial reúnem psicólogas/os, profissionais da saúde, estudantes e movimentos sociais em Sorocaba


Publicado em: 15 de maio de 2022
Fotos: Divulgação

Um potente encontro reuniu psicólogas/os, profissionais da saúde, representantes de movimentos sociais, docentes e estudantes de Psicologia na praça da rua São Bento, no Centro de Sorocaba, na noite de quinta-feira, 12 de maio. Em debate, estavam o cuidado em liberdade e a saúde mental promovidos fora dos manicômios e com garantia dos direitos das pessoas em sofrimento.

Ilustrando essas trocas, as frases da campanha do CRP SP #PorUmSUSAntimanicomial ecoavam no topo de um prédio central na praça, espalhando mensagens como “Saúde mental se faz com o povo, por um SUS Antimanicomial” e lembrando a todas/os o caráter democrático, coletivo e inclusivo da mobilização. Uma das estudantes, também usuária do CAPS, trazia os dizeres, estampados na camiseta, “Nenhum passo atrás. Manicômios nunca mais”, replicando uma das frases projetadas na empena do prédio naquela noite.

Durante a roda de conversa que se formou em frente às projeções, alguns estudantes afirmaram estar se aproximando da temática pela primeira vez e sentindo-se muito tocados pelo que ouviam. Outros relataram como a questão da institucionalização e dos manicômios afetou suas famílias. Algumas pessoas que circulavam pelo local somaram-se à roda.

As/os docentes aproveitaram para recuperar o histórico da luta antimanicomial de Sorocaba e entorno marcado pela presença de hospitais psiquiátricos e manicômios. Embora tenham fechado os quatro hospitais psiquiátricos da cidade, ainda temos muitos desafios, pois a lógica manicomial e excludente segue muito presente”, pontuou Ione Aparecida Xavier, psicóloga (CRP 06/27445) e conselheira do CRP SP, que também compartilhou sobre o histórico da cidade.

Jéssica dos Santos Moreira Pavanelli, psicóloga (CRP 06/127427) e coordenadora da Subsede Sorocaba, trouxe um pouco sobre o trabalho realizado pela subsede, em especial, as fiscalizações operadas pela Comissão de Orientação e Fiscalização (COF) em comunidades e residências terapêuticas e sobre como estes momentos deflagram violações de Direitos Humanos.

As projeções se encerraram às 21h, entre abraços e registros fotográficos emocionados. “As pessoas puderam se manifestar e olhar para as projeções, que passavam mensagens impactantes sobre o que é esta luta. Muitos alunos ficaram instigados a participarem dos movimentos. Entendo que somamos muito”, observou Ione. “Vamos seguir na luta!”, finalizou.

A situação de Sorocaba e região

A Luta Antimanicomial tem início, em Sorocaba, por meio de estudantes de Psicologia que estagiavam em hospitais psiquiátricos e deparavam-se com situações de privações de liberdade, bem como de tratamento de saúde mental inadequado. A partir de então, começa a articulação para a desospitalização das/os usuárias/os, passando para a desinstitucionalização dos atendidos juntamente com o movimento Fórum da Luta Antimanicomial de Sorocaba (FLAMAS). 

Atualmente, os desafios se centram na existência das comunidades e residências terapêuticas na região e suas novas formas de aprisionamento e violação de direitos das pessoas em sofrimento mental.

A Luta Antimanicomial e a Psicologia

A Luta Antimanicomial é um processo histórico das pessoas em sofrimento mental e das/os profissionais da saúde pela garantia dos Direitos Humanos e sociais e pelo cuidado em liberdade. 

Até pouco tempo, a única possibilidade de cuidado para alguém que sofresse de problema mental era o isolamento e a segregação compulsórios, em hospitais psiquiátricos que submetiam pacientes a tratamentos nos quais sua palavra, sua singularidade e seu desejo eram desconsiderados.

A partir de denúncias sobre este tipo de intervenção que revelavam tanto a ineficiência do modelo de internação, quanto suas práticas de opressão e violência, em meados dos anos 80, o cenário foi se transformando. Muitos países optaram por reduzir de maneira drástica as internações em hospitais psiquiátricos. Com a mudança de paradigma, passaram a ser investidos recursos em serviços comunitários de saúde mental mais próximos dos lugares onde os indivíduos habitam, onde a vida acontece e onde se dá o processo saúde-doença. 

No Brasil, o processo foi nomeado como Reforma Psiquiátrica e resultou em uma abrangente e diversificada política de saúde mental que, desde os anos 80, vem se consolidando em uma ampla, complexa e multidisciplinar rede de serviços de saúde mental, como Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), residências terapêuticas, centros de convivência, consultórios na rua, Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASFS), entre outros. Nesse modelo, valoriza-se o cuidado em liberdade em território, apostando-se no aumento da potência da vida do sujeito, na construção de formas de lidar com seu sofrimento. 

As reivindicações postas pela Luta Antimanicomial seguem atuais diante dos ataques e desmontes das Políticas Públicas de saúde mental e da manutenção de lógicas excludentes. As mobilizações contra a mercantilização da saúde e por uma sociedade sem manicômios mostram-se urgentes e se fortalecem como um compromisso da Psicologia.

Falta pouco para o 18 de Maio!

No Dia Nacional da Luta Antimanicomial, 18 de Maio, as projeções da campanha #PorUmSUSAntimanicomial serão realizadas no Centro de São Paulo, no Largo do Arouche (rua Bento Freitas, número 34 República), a partir das 19h.

São Paulo será a 11ª cidade a receber a ação que tem acontecido em todo o estado desde fevereiro deste ano, projetando mensagens, nas ruas, sobre cuidado em liberdade e fomentando o debate sobre a saúde mental garantida por meio dos equipamentos públicos e estendida a toda a população. As ativações costumam oportunizar rodas de conversas nos espaços onde ocorrem, algumas acontecidas de modo espontâneo. Saiba como foram as projeções nos territórios. 

Em paralelo, dentro da campanha #PorUmSUSAntimanicomial, breves vídeos em que as/os conselheiras/os e membras/os do CRP SP contextualizam a luta antimanicomial têm sido publicados nas redes sociais do Conselho. Até agora, a campanha já somou mais de 600 mil visualizações orgânicas.

Projeções da Luta Antimanicomial do CRP SP 
Quando: 18 de Maio de 2022.
Local: Largo do Arouche (rua Bento Freitas, número 34 República), São Paulo.
Horário: Das 19h às 21h.
Hashtags da ação: #PorUmSUSAntimanicomial
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Evento gratuito e aberto ao público.

#PraTodosVerem: a matéria traz fotografias da projeção realizada em Sorocaba. Aparecem imagens da roda de conversa e de pessoas reunidas em frente à projeção. O cenário é noturno e as pessoas vestem roupas quentes. As projeções trazem as frases “Saúde mental se faz com o povo, por um SUS Antimanicomial”, "SUStentação do cuidado em saúde mental" e "Um dia eu simplesmente apareci", do Bispo do Rosário.