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CRP SP Retratos: Amelinha Teles


Publicado em: 9 de dezembro de 2020

Impossível falar de direitos das mulheres brasileiras sem falar em Maria Amélia Teles, mais conhecida como Amelinha Teles. É por isso que fechamos essa sequência de relatos com esta mulher referência que abriu muitos caminhos.

A militância em direitos humanos está, praticamente, em seu DNA. O pai fazia parte do sindicato dos portuários de Santos, na época conhecida como a "Cidade Vermelha" do Brasil por ser palco de greves e manifestações. “Eu cresci no meio de movimentos sociais”, relembra ela, que também esteve nas ruas de Belo Horizonte, nas discussões da escola pública e nas greves.

Anos depois, entraria para o Partido Comunista e, a partir do Golpe Militar de 1964, seria perseguida pelo regime de maneira implacável. Não só ela: toda sua família. Primeiro, o pai foi sequestrado e levado pelos órgãos de repressão. Em seguida, ela e a irmã também foram presas pela primeira vez, ficando detidas num quartel. Quando foram soltas, começam a vida na clandestinidade - ela, no Rio; a irmã, na Guerrilha de Araguaia. Não demorou muito para que Amelinha, seu companheiro César, sua irmã (que estava grávida de 8 meses) e seus filhos, Janaína e Edson, com 4 e 5 anos de idade respectivamente, fossem levados pelo DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna). 

Lá, foram torturados cruelmente sob o comando de Carlos Alberto Brilhante Ustra. Vale lembrar que Ustra foi reconhecido e condenado como torturador em três instâncias na década de 2000. Seu nome consta na Comissão Nacional da Verdade, ao lado de 377 torturadores, graças, em grande parte, à ação declaratória movida pela família Teles. "Eu vi muita violência. Lembro que na primeira noite no DOI-CODI eu fui estuprada. Trouxeram meus filhos para a sala de tortura para que vissem meu estado”, afirma. "Me sinto na obrigação de denunciar os crimes da ditadura e não me importo de falar, mas… é duro. A tortura é uma ferida que nunca cicatriza e que às vezes volta a sangrar.”

Segundo ela, foram as mulheres que lhe acolheram dentro da prisão e quando saiu da mesma. “A experiência compartilhando vivências com tantas companheiras me transformou. Eu passei a ver a sociedade de uma forma diferente. Se eu era uma feminista clandestina, eu passei a ser uma feminista pública.” Uma atuação que seguiu pela vida toda e deixou marcas importantes na defesa das brasileiras. “Eu mudei bastante, aliás, eu sigo mudando até hoje. O que não muda é que eu sou uma defensora dos direitos humanos em qualquer circunstância. Sou uma defensora das liberdades políticas, contra todas as opressões, em qualquer circunstância." 

Em 1981, Amelinha co-fundou a União de Mulheres de São Paulo e, em 1994, encabeçou o lançamento do projeto Promotoras Legais Populares (PLPs), com o objetivo de multiplicar o conhecimento sobre as leis e ampliar o acesso à justiça. "Eu sou uma mulher, mas não sou uma luta só."

Para ela, as mulheres hoje têm muito mais consciência das suas identidades. "Você vê mulheres de todas as histórias como protagonistas, como lutadoras por direitos. As identidades das mulheres são bem mais reveladas: mulheres negras, prostitutas, periféricas, jovens, trans, intelectuais, artistas, trabalhadoras. Nossa diversidade hoje aparece e é reconhecida.” 

Amelinha também vê nos exemplos das mulheres da América Latina, o continente mais desigual do mundo, uma grande inspiração de resistência. "Todo mundo que levanta a cabeça e vai em frente me inspira. Estou lembrando da Conceição Evaristo e aquela fala: “Eles combinaram de nos matar, mas nós combinamos de não morrer”. E não morrer quer dizer enfrentar, sobreviver, resistir. Acho isso demais."

Apesar de estarmos num país que ocupa o quinto lugar no ranking de feminicídios, ela cultiva certo otimismo e gratidão quando olha para as mobilizações contemporâneas: "Quando vejo essa meninada toda indo pra rua, penso que tudo que fizemos lá atrás valeu a pena. Penso: estão todas lá. Então a gente pode dizer que essa batalha nós ganhamos.” E completa com um chamado: "Mulheres, vamos à luta. Nós não temos que esperar por ninguém. Temos plenas condições de buscar soluções e construir caminhos."

Amelinha Teles conversou com o CRP SP para contar um tanto da sua história e motivar mais mulheres e a sociedade em geral a aderir aos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres e à incansável luta contra as violências de gênero.

A Psicologia se faz em defesa de todas as mulheres.

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#PraTodosVerem: nesta publicação há uma foto de Amelinha Teles. Amelinha é branca, de cabelos grisalhos, usa um óculo avermelhado e veste uma camisa verde e sobretudo preto. Atrás dela, há um armário de madeira.